quarta-feira, 29 de junho de 2016

Grupo de Estudos Narrativos




Direcionado para psicólogos interessados em conhecer mais a respeito das práticas narrativas, este grupo tem a proposta de ser um espaço de discussão teórica e clínica.

O grupo com início marcado para 05/julho alcançou o número máximo de participantes e está com as inscrições encerradas. Porém, estamos abrindo a possibilidade de um segundo grupo com novas datas, também às terças feiras, com início no dia 12/julho.

Para participar, é só mandar um email para psicojd@gmail.com ou whatsapp 9981-3821 e confirmar sua inscrição.

Abaixo estão as principais informações.


Grupo de Estudos Narrativos - Grupo 2
(conversações teóricas e supervisão de casos)
Coordenação: João David C. Mendonça  (CRP 12/03702)

5 encontros quinzenais de 90 minutos (terças feiras das 14h às 15h30min)

Local: Familiare Instituto Sistêmico - Florianópolis, SC
Novas datas previstas:   12/07, 26/07, 09/08, 23/08, 06/09

Valor: R$ 50,00 por encontro

Contato e inscrição: whatsapp 9981-3821 / psicojd@gmail.com

Outras informações


O grupo será pequeno, entre 4 e 7 pessoas.


Pretende-se trabalhar alguns conceitos e práticas narrativas a partir das experiências pessoais e clínicas que cada participante poderá trazer para o grupo.


Também pretendo discutir alguns casos clínicos que podem ser trazidos por mim ou por algum participante. Porém não será uma supervisão tradicional de acompanhamento sequencial do caso, mas uma intervenção pontual, focando mais no terapeuta e suas habilidades do que no conteúdo do caso em si.


De acordo com as conversas, poderemos sugerir e repassar alguns textos em pdf (em inglês, espanhol ou português) para que cada participante possa aprofundar o que está sendo debatido. Algum destes textos poderão ser trabalhados mais a fundo no próprio encontro, dependendo do interesse do grupo.


Não há um esquema prévio fechado de temas, pois vai depender muito de como o grupo vai preferir caminhar, e dos casos que vamos discutir.


A participação será considerada para os 5 encontros mesmo que a pessoa falte em algum.


Este projeto é fruto de uma idéia em que venho pensando há algum tempo: trabalhar com pequenos grupos de estudo e supervisão tendo como base principal a perspectiva narrativa, pois acredito que trabalhar a partir desta abordagem tem um efeito revitalizador para o terapeuta em sua experiência profissional.


É um formato que será novo para mim, sobre o qual eu coloco algumas boas expectativas, mas também creio que ele irá se aprimorando a partir das conversas e da participação da pessoas que toparem se envolver com ele.

A intenção é que esta experiência possa enriquecer a identidade profissional e a prática terapêutica dos participantes.

domingo, 5 de junho de 2016

O que leva um adulto a bater numa criança

Algumas idéias para tentar entender o que leva um adulto a considerar normal o uso da punição física infantil:

Naturalização cultural 

Uma naturalização cultural de dimensão transgeracional. Quem apanhou tende a reproduzir o “sistema educacional” que recebeu, sem perceber os efeitos nocivos desta reprodução. Para muitos desses pais que apanharam na infância, pensar na possibilidade de educar os filhos de maneira diferente (e até melhor) pode soar como um desrespeito ou como uma deslealdade aos próprios pais. 

Deste contexto, surge um conhecido discurso vindo das pessoas que batem nos filhos: agradecem pelas palmadas que levaram de seus pais, atribuindo a elas a responsabilidade por serem hoje “pessoas de bem”. 

Para entender melhor este discurso, vale citar o conceito de “lealdades invisíveis”, desenvolvido pelo psiquiatra húngaro Ivan Borzomenyi Nagy. Estas lealdades são vistas como forças secundárias que regulam nossos comportamentos e nossos pensamentos, como se fossem compromissos invisíveis internalizados a partir da fantasia de que agir ou pensar diferente poderia colocar em risco a manutenção da relação ou da imagem de seus pais ou cuidadores. 

Assim, é tão importante, para muitas destas pessoas, que as palmadas sejam consideradas como “boas lembranças” e até mesmo repetidas em seus próprios filhos. Propor um caminho de educação que saia deste padrão é sentido como uma ameaça ao status quo do legado familiar.

Criança só entende apanhando

A noção equivocada de que criança não tem capacidade plena de compreensão, fruto também de uma cultura que não valoriza a Infância. Esta noção leva à ideia de que para aprender, a criança precisa apanhar, pois ela só entende a “língua da palmada”.  

Assim, temos hoje uma sociedade que já conseguiu proibir os escravos de apanhar, já criou leis para defender as mulheres, já não bate mais nos seus "loucos", já criou instituições de defesas dos índios, já considera crime a tortura de prisioneiros, já luta contra o mau trato aos animais, mas ainda considera normal e socialmente aceitável bater numa criança.  


Mostrar autoridade

Outra ideia que contribui para o uso da violência: os pais precisam dar uma palmada na criança para mostrar a sua posição de autoridade na família. Pois eu sugiro um raciocínio diferente: a palmada, ao contrário de afirmação de autoridade, é consequência da sua ausência, é o sinal de que o pai não sabe mais o que fazer, perdeu a capacidade de raciocinar e de estabelecer-se como autoridade na vida do seu filho. 

Quando um cuidador perde a autoridade, fica mais vulnerável a atitudes de descontrole e impaciência, mais próximo de “perder as estribeiras”. É claro que toda criança vai confrontar seus pais, vai desobedecer, vai fazer birras. A diferença está na maneira como os pais vão responder a este confronto. Se respondem com tapas ou palmadas, perdem a oportunidade de mostrar quem é o adulto da situação. 

Se os pais querem que os filhos confiem em sua autoridade, precisam posicionar-se como adultos que buscam enfrentar adversidades, provocações e irritações com auto-controle e maturidade. Isto servirá de exemplo para a criança, e será um modelo emocional muito mais eficaz que palmadas, surras ou gritarias.


Bater para evitar problemas futuros

A ideia de que criança que não apanha vai apresentar problemas mais tarde também influencia muitos pais e educadores. Porém, inúmeras pesquisas já comprovaram que crianças que costumam ser “corrigidas” ou “ensinadas” à base de força bruta estão mais vulneráveis a adotar comportamentos transgressores e agressivos do que outras que são criadas num cultura de não agressividade. 

Aqui entra mais um discurso popular que precisa ser questionado: “bato no meu filho para ele não apanhar da polícia no futuro”. Costumo responder a esta fala com a ideia de que quanto mais você bate no seu filho, mais você o aproxima de apanhar da polícia no futuro.


Discursos estereotipados

Algumas crenças enraizadas no senso comum também cooperam para o uso da violência: “Bato para o bem do meu filho, porque o amo e quero o melhor para ele”. “Bato porque a criança precisa ser corrigida para não sofrer mais tarde”. “Bato para ensinar o que é certo e o que é errado”. “Bato para ser obedecido”. 

São discursos prontos que vão sendo incorporados pela sociedade sem que hajam reflexões críticas que questionem sua eficácia. Tudo que se deseja nestas falas – demonstrar amor, corrigir, ensinar - pode ser alcançado sem o uso da violência física.


Cultura religiosa

É muito forte a presença de idéias religiosas que reforçam o uso da palmada, especialmente através de uma interpretação literal e descontextualizada de alguns textos bíblicos que falam de disciplina e uso da "vara". Aqui é possível ler um pouco mais sobre isto: Os cristãos e a lei contra a punição física


Bater para impor limites

Por último, outro pensamento que influencia o uso da força está baseado na confusão entre “educação sem violência” com “educação sem limites”. Pais ficam temerosos ao pensar que se não baterem nas crianças, elas ficarão sem limites e desobedientes. Mas há muitas formas de impor limites sem que se faça uso de qualquer punição física. Negar-se a usar a política da palmada não é negar-se a educar, a disciplinar ou a impor limites tão necessários na formação da criança. É, ao contrário, a tentativa de constituir uma relação familiar que seja diferente do modo vigente em nosso mundo já tão repleto de maus tratos, opressão e injustiça.

Intenção versus resultado

Não acredito que os pais gostem de bater. E creio que quando eles batem, eles realmente estão achando que estão educando e ensinando a criança. Não há dúvidas de que, a não ser em casos patológicos, todos os pais desejam o melhor para seus filhos. Mas ao utilizar a punição física, a boa intenção dos pais ou educadores não é correspondida na prática, e o resultado é antagônico ao que se pretende. 

Criança não aprende apanhando

Quando uma criança recebe uma palmada, seu cérebro percebe este ato como uma experiência de perigo, e reage de acordo com esta percepção. E esta experiência coloca a sua mente em um estado em que não se consegue aprender nada. 

A criança apenas reage de acordo com a mensagem que recebe: mudar o seu comportamento negativo. Ela obedece o comando cerebral imediatamente, o que gera a ilusão por parte dos pais de que a palmada “resolveu o problema”. 

Mas como é um comportamento reativo e não elaborado cognitivamente (pois o ato violento da palmada 'desligou' o seu sistema límbico, que seria o centro emocional que ‘aciona’ a aprendizagem e compreensão), ela na verdade não aprendeu nada. 

Repetirá o comportamento em breve, despertando a fúria dos pais, que respondem com mais agressão, o que desliga novamente a capacidade de aprendizagem da criança, entrando assim numa rota retro alimentadora da violência que gera cansaço e desesperança em ambos os lados: nos pais que concluem que a criança está merecendo apanhar porque insiste em lhes provocar, e na criança que, sem entender, conclui que os pais não a amam porque insistem em lhe bater.

E instala-se aqui uma sucessão sistemática de medo, raiva e ressentimento entre pais e filhos.

sábado, 4 de junho de 2016

As palmadas e a aprendizagem escolar

Não é muito difícil compreender que experiências de violência severa geram consequências traumáticas numa criança. 

Mas o que é importante observar, e que nem sempre é compreendido com clareza, é que mesmo as palmadas consideradas “educativas” também geram muitas interferências nos processos de aprendizagem.

Se entendemos que a capacidade de aprendizado está associada a um estado de tranquilidade emocional, não será difícil deduzir que uma criança que sofre com frequência algum tipo de punição física não terá as condições psicológicas adequadas para vivenciar processos de aprendizado que demandam concentração, autoconfiança, autocontrole, segurança de si.

Autoimagem e identidade

A violência física têm também um efeito sobre a autoimagem. A cada palmada que uma criança recebe, ela entende uma mensagem embutida: "você faz errado", "seu valor está baseado no que você faz ou deixa de fazer, e não no que você é". A criança aprende que para não apanhar, ou para não decepcionar os pais, ela tem que suprir as expectativas depositadas sobre ela. O que obviamente é uma tarefa impossível para uma criança. O resultado disso é que ela passa a não gostar de si mesma, pois percebe que por mais que tente, não consegue alcançar o grau de excelência imaginado por ela, que lhe daria a aceitação plena por parte dos pais.

Além de tudo isto, a prática da palmada exerce um forte efeito sobre a formação da identidade da criança. A noção de "quem sou eu" é influenciada também pela relação que a criança estabelece com seus cuidadores. Quando os seus feitos são avaliados em termos de "apanhar" ou "não apanhar", esta identidade vai sendo construída sobre um terreno de ameaças e de inseguranças, de desconfianças de suas capacidades e habilidades, de temores de não conseguir agradar ou suprir as expectativas.

Eis aí um solo fértil para o desenvolvimento de um adulto que terá dificuldades para acreditar em suas próprias potencialidades.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Efeitos emocionais

Uma criança que recebe punição física tende a ser mais agressiva no trato com outras crianças, pode apelar mais facilmente para brigas como forma de obter o que deseja, pode desenvolver o costume de utilizar tapas nas relações com seus iguais, começar a morder os outros quando se vê diante de alguma disputa, e está mais sujeita a reproduzir atitudes de agressão batendo nos irmãos ou amiguinhos. 

Os efeitos emocionais podem ainda manifestar-se através de sentimentos como vergonha, raiva, rejeição, confusão, medo e sensação de impotência. E é bastante comum que uma criança que apanha não se sinta autorizada a expressar estes sentimentos que, acumulados, a deixam vulnerável para alguma forma de patologia ou dependência.

Estes comportamentos podem aparecer em maior ou menor grau, dependendo de outros fatores como a frequência com que a criança apanha, seu temperamento, sua personalidade, se há outras pessoas que servem como referências positivas, etc.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Dia Mundial Contra a Agressão Infantil

Dia 04 de Junho é o Dia Mundial contra a Agressão Infantil.
Aqui vai um resumo para mostrar que mesmo quando a intenção é boa, os resultados são desastrosos.