segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Por que?

Por que é tão difícil compreender essa simples lógica?


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O português e a violência infantil


Estou cada vez mais convencido de que para se chegar a uma cultura de educação sem violência, é necessário intensificar nas escolas o ensino de Língua Portuguesa e Interpretação de Texto. Afinal, toda vez que se escreve "educar sem bater", sempre tem alguém que lê "educar sem limites".



Minha "licença paternidade"

Já que a legislação não está muito a meu favor como pai, tive que inventar um jeito de fazer a minha própria licença paternidade.
Não parei de trabalhar, porém reconfigurei minha agenda. Mantive os compromissos já existentes do consultório mas desacelerei a entrada de novos pacientes. Passei a recusar temporariamente convites para palestras e outras atividades afins. Aos fins de semana, prioridade para programas em família.
Minha licença paternidade não é apenas para ficar com o bebê que acabou de chegar. É também, na mesma medida de importância, para estar junto do mais velho de 5 anos, para que ele sinta que a presença do irmão mais novo não será sinônimo de ausência do papai ou da mamãe.
Dia desses uma emissora de TV me convidou para uma entrevista sobre a importância do pai na vida da criança. Não aceitei o convite porque já tinha um compromisso muito importante: ir ao cinema ver Universidade Monstros com o meu filho.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Presença parental

Trecho introdutório do livro "Autoridade Sem Violênica: o resgate da voz dos pais", de Haim Omer (Ed. Artesã)

Todos sabem que um dos piores traumas que uma criança pode sofrer é crescer sem a presença de figuras parentais (pai, mãe ou quem os substitua) que lhe dêem carinho, cuidado e proteção. Sabemos também que a perda de um dos pais durante a infância é quase sempre profundamente traumática. Menos reconhecida, no entanto, é uma outra forma de privação: a que se dá quando um dos pais se deixa paralisar ou perde sua voz ativa. Muitos pais cedem, ocasionalmente, quando se defrontam com demandas, ameaças ou agressões da criança. No entanto, quando ceder se torna um hábito, diremos que a criança fica privada de presença parental. O que talvez fosse até pior: a criança sente que ela própria teria eliminado a presença dos pais.

Nessa mesma circunstância, a percepção dos pais pode ser exatamente oposta: eles podem sentir que estão sempre presentes, pois eles vivem somente para a criança! Mas é este o problema: se os pais vivem só para a criança, eles não têm voz ativa e perderam a própria individualidade. O pai (ou mãe) torna-se, então, um executor, um empregado, uma sombra da criança. Ser presente é ser alguém, com seus próprios pensamentos, sentimentos e desejos. Para crescer, a criança precisa de alguém assim presente. Somente então poderá a criança sentir-se segura. O pai (ou a mãe) que se torna um eco das vontades da criança, a deixa num vazio.

A experiência de presença parental pode também perder-se de outra maneira: quando quem cuida da criança está presente como indivíduo mas não como alguém engajado no papel parental. Alguns pais vêem isto como um ideal: "Eu quero ser sempre o amigo meu filho" ou "Eu quero ser amada pelo que eu sou e não por ser sua mãe". Outros pais encaram somente as suas próprias necessidades sem cuidarem das da criança. Em ambos os casos, a criança fica sem a presença parental. 

Presença parental é, assim, um conceito bipolar: os pais têm que estar presentes tanto como indivíduos autônomos quanto como titulares do papel parental. Se um destes aspectos falta, a criança estará privada da presença parental. A privação mais séria se dá quando os pais se deixam apagar tanto como pessoas quanto no papel parental. 


quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sobre palmadas e autoridade

"INFELIZMENTE, APENAS AS CRIANÇAS AINDA APANHAM COM O CONSENTIMENTO SOCIAL. NÃO É ESTRANHO ISSO?"

O psicólogo João David Mendonça atua na área de terapia de família, é professor e supervisor clínico do Familiare Instituto Sistêmico em Florianópolis/SC. Também - e não menos importante - é pai do Felipe, de 4 anos, e do Henrique, que nasce em julho! Escreve sobre psicologia, terapia e coisas da vida no blog Psicojd.

Nessa entrevista ele nos ajuda, com muita lucidez, a entender sobre algumas questões ligadas à violência doméstica, principalmente a que atinge as crianças. 

Frase de João David Mendonça usada em um meme da fanpage do movimento Bater em Criança é Covardia (www.facebook.com/SemPalmadas)




Sabemos que alguns dos pais que dão palmadas em seus filhos nunca questionaram o porquê desse comportamento. Porém alguns deles, quando se deparam com informações e campanhas contra a violência doméstica, assumem uma posição agressiva, direcionando comentários raivosos à problemática. Por que isso acontece?

Talvez porque seja um tema que os remete às suas próprias experiências emocionais da infância. Muitos dos que são pais hoje apanharam quando crianças. Para muitos desses pais, pensar na possibilidade de educar os filhos de maneira diferente (e até melhor) pode soar como um desrespeito ou como uma deslealdade aos próprios pais.

Entre as pessoas que batem nos filhos há um discurso muito comum: agradecem pelas palmadas que levaram de seus pais, e colocam nelas a responsabilidade por serem pessoas de bem.

Na terapia de família trabalhamos com um conceito de “lealdades invisíveis”, desenvolvido pelo psiquiatra húngaro Ivan Borzomenyi Nagy. Tais lealdades são vistas como forças secundárias que regulam nossos comportamentos e nossos pensamentos, como se fossem compromissos invisíveis internalizados a partir da fantasia de que agir ou pensar diferente poderia colocar em risco a manutenção da relação ou da imagem de seus pais ou cuidadores. Assim, é tão importante, para muitas destas pessoas, que as palmadas sejam consideradas como “boas lembranças” e até mesmo repetidas em seus próprios filhos. Propor um caminho de educação que saia deste padrão pode ser uma ameaça, e por isso tal idéia é muitas vezes rechaçada com forte reatividade.


É comum ainda ouvir argumentos como "Eu apanhei quando era criança e não me tornei uma pessoa violenta". Que outros tipos de desculpas os agressores utilizam para justificar surras?

Acho que são mais que “desculpas”, são crenças fortemente enraizadas que sustentam o danoso hábito da punição física. Dentre estas crenças, dou alguns exemplos:
. Bato para o seu próprio bem, porque amo meu filho e quero o melhor para ele;
. Bato para mostrar a minha autoridade;
. Bato porque a palmada é um meio de impor limites na criança;
. Bato porque uma criança precisa ser castigada e corrigida de seu erro para não sofrer mais tarde;
. Bato para disciplinar a criança e ensiná-la sobre o que é certo e o que é errado.
. Bato para ser obedecido.
. Bato porque a criança não tem capacidade para entender uma conversa.

O desafio de nossa geração é compreender que todos estes objetivos citados poderiam ser alcançados por outros caminhos que não o da violência física. É interessante constatar que nossa sociedade já conseguiu proibir os escravos de apanhar, já criou leis rigorosas para defender as mulheres, já não bate mais nos seus "loucos", já criou instituições de defesas dos índios, já considera crime a tortura de prisioneiros, já luta contra o mau trato aos animais. Infelizmente, apenas as crianças ainda apanham com o consentimento social. Não é estranho isso?



A criança que apanha (mesmo que de leve) apresenta comportamento diferente daquela que nunca levou um tapa sequer?

Vale lembrar que não existe criança perfeita, que obedece o tempo todo, que não chora nem faz birras, que não tem suas próprias opiniões, que não buscam testar os seus pais. Ou seja, criança é criança e ponto final.

Porém, uma criança que apanha tende a ser mais agressiva no trato com seus iguais, pode desenvolver o hábito de morder os outros, apela mais facilmente para brigas como meio de conseguir o que quer, utiliza tapas nas suas relações com outras crianças, tende a reproduzir atitudes de agressão batendo nos irmãos.

Tais comportamentos podem aparecer em maior ou menor grau, dependendo de outros fatores como a frequencia com que a criança apanha, seu temperamento e personalidade, se há outras pessoas que servem como referências positivas, etc.

Além destes comportamentos, podemos pensar em muitas outras consequências que podem se manifestar, como baixa auto-estima, vergonha, raiva, sensação de impotência, sentimento de rejeição, medo, confusão, etc.

É um equívoco muito comum acreditar que criança que não apanha vai apresentar problemas mais tarde. É exatamente o contrário: crianças que costumam ser “corrigidas” ou “ensinadas” à base de força bruta estão mais vulneráveis a adotar comportamentos transgressores e agressivos do que outras que são criadas num cultura de não agressividade.



Você diz que "a palmada, ao contrário de afirmação de autoridade, é consequência da sua ausência." Qual a melhor maneira de demonstrar autoridade sem ameaçar a integridade da criança?

Diferentemente de como alguns comumente pensam, a autoridade parental não está presente num ato isolado, como a palmada por exemplo. A autoridade genuína encontra-se no modo como a relação pais/filhos está baseada. Alguns pais acreditam que bater é uma maneira de demonstrar autoridade. Eu tenho insistido que não, que bater é, ao contrário, o sinal de que o pai não sabe mais o que fazer, perdeu a capacidade de raciocinar e de estabelecer-se como autoridade na vida de uma criança.

É claro que toda criança vai confrontar seus pais, vai desobedecer, vai fazer birras. A diferença está na maneira como os pais vão responder a este confronto. Se respondem com tapas ou palmadas, perdem a oportunidade de mostrar quem é o adulto da situação, e quem é ali a autoridade para enfrentar a adversidade.

Creio que algumas maneiras mais autênticas pelas quais os pais podem mostrar sua autoridade são:
. Autoridade pela presença. Estar presente e interessado na vida do filho é um modelo de autoridade;
. Autoridade pelo exemplo. Se o pai responde com um ato violento, o exemplo que ele dá é o da violência, mesmo que ele diga que “dói mais nele que no filho”. Crianças seguem modelos, não discursos;
. Autoridade pela firmeza. Quando um pai fala ou repreende com assertividade, passa segurança ao filho;
. Autoridade pela relação de afeto. A criança sente-se muito mais envolvida com o adulto quando ela sente-se respeitada por ele na sua identidade, o que possibilita a ampliação do afeto mútuo.

Tais manifestações de autoridade não agridem nem ameaçam a criança, e contribuem para fortalecer seu nível de confiança em seus cuidadores.



"Eu bati no meu filho, mas me arrependi e não quero fazer de novo." Como trabalhar essa questão com os pais e com os filhos?

Acho ótimo terminar a entrevista com esta visão positiva, que há muitos pais que desejam um novo tipo de relacionamento com seus filhos. Neste caso considero importante, em primeiro lugar, trabalhar com a idéia do reconhecimento de nossas imperfeições. A paternidade / maternidade é um aprendizado constante. Quando estamos aqui falando a respeito dos riscos de uma educação baseada em palmadas, não queremos que os pais se sintam incompetentes, culpados ou confusos. Não há uma pílula mágica capaz transformar todos nós em pais perfeitos, infalíveis e sem máculas. Temos então que nos permitir errar, pois nem sempre estamos prontos para acertar.

Porém, creio que um segundo passo é importante neste processo: dar-nos conta de que possuímos uma incrível capacidade para mudar e nos transformar. Sem dúvidas, o caminho da educação sem tapas e palmadas é bem mais difícil. Exige dos pais muito mais tempo, paciência, sabedoria, auto-controle, e especialmente o exercício de seus próprios limites para não “perder as estribeiras”. Afinal, como um pai pode ensinar limites a um filho, se ele mesmo não consegue controlar os seus próprios limites em um momento de contrariedade?

A educação pela paz é muito mais que uma regra de conduta; é uma postura. Se é uma postura, quando nos conduzimos de maneira equivocada, podemos percebê-la e imediatamente retomar o rumo. Se num lampejo de imperfeição, comum a todos nós pais, e dominados pela irritação ou fúria, apelamos no passado para algum tipo de punição física, é possível restabelecer a consciência de que este não é o modo preferível de nos relacionarmos com nossos filhos.

Aos que percebem o erro, resta-lhes o desafio de levantar a cabeça e continuar lutando para manter a postura de não violência, especialmente porque o que eles mais desejam é o bem de seus filhos.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Rubem Alves para o Dia dos Pais

Era uma sessão de terapia. "Não tenho tempo para educar a minha filha", ela disse. Um psicanalista ortodoxo tomaria essa deixa como um caminho para a exploração do inconsciente da cliente. Ali estava um fio solto no tecido da ansiedade materna. Era só puxar um fio... Culpa. Ansiedade e culpa nos levariam para os sinistros subterrâneos da alma. Mas eu nunca fui ortodoxo. Sempre caminhei ao contrário na religião, na psicanálise, na universidade, na política, o que me tem valido não poucas complicações. 

O fato é que eu tenho um lado bruto, igual àquele do Analista de Bagé. Não puxei o fio solto dela. Ofereci-lhe meu próprio fio. "Eu nunca eduquei meus filhos...", eu disse. Ela fez uma pausa perplexa. Deve ter pensado: "Mas que psicanalista é esse que não educa os seus filhos?". "Nunca educou seus filhos?", perguntou. 

Respondi: "Não, nunca. Eu só vivi com eles". 

Essa memória antiga saiu da sombra quando uma jornalista, que preparava um artigo dirigido aos pais, me perguntou: "Que conselho o senhor daria aos pais?". 

Respondi: "Nenhum. Não dou conselhos. Apenas diria: a infância é muito curta. Muito mais cedo do que se imagina os filhos crescerão e baterão as asas. Já não nos darão ouvidos. Já não serão nossos. 

No curto tempo da infância há apenas uma coisa a ser feita: viver com eles, viver gostoso com eles. Sem currículo. A vida é o currículo. Vivendo juntos, pais e filhos aprendem. A coisa mais importante a ser aprendida nada tem a ver com informações. Conheço pessoas bem informadas que são idiotas perfeitos. O que se ensina é o espaço manso e curioso que é criado pela relação lúdica entre pais e filhos". Ensina-se um mundo! 

Vi, numa manhã de sábado, num parquinho, uma cena triste: um pai levara o filho para brincar. Com a mão esquerda empurrava o balanço. Com a mão direita segurava o jornal que estava lendo... Em poucos anos, sua mão esquerda estará vazia. Em compensação, ele terá duas mãos para segurar o jornal.

Rubem Alves, do livro "Ostra Feliz Não Faz Pérola", Editora Planeta

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Recordações

O post de hoje é um diálogo entre um texto do Antônio Prata que saiu na Folha de São Paulo, e uma resposta ao texto, escrito pelo meu querido amigo Henrique Silvério e compartilhado no Facebook. 
Ambos inundados de sensibilidade.
Recordação
Por Antônio Prata
'Não faz sentido, pra que que a pessoa quer gravar as coisas que não são da vida dela e as coisas que são, não?'
"Hoje a gente ia fazer 25 anos de casado", ele disse, me olhando pelo retrovisor. Fiquei sem reação: tinha pegado o táxi na Nove de Julho, o trânsito estava ruim, levamos meia hora para percorrer a Faria Lima e chegar à rua dos Pinheiros, tudo no mais asséptico silêncio, aí, então, ele me encara pelo espelhinho e, como se fosse a continuação de uma longa conversa, solta essa: "Hoje a gente ia fazer 25 anos de casado".

Meu espanto, contudo, não durou muito, pois ele logo emendou: "Nunca vou esquecer: 1º de junho de 1988. A gente se conheceu num barzinho, lá em Santos, e dali pra frente nunca ficou um dia sem se falar! Até que cinco anos atrás... Fazer o que, né? Se Deus quis assim...".

Houve um breve silêncio, enquanto ultrapassávamos um caminhão de lixo e consegui encaixar um "Sinto muito". "Obrigado. No começo foi complicado, agora tô me acostumando. Mas sabe que que é mais difícil? Não ter foto dela." "Cê não tem nenhuma?" "Não, tenho foto, sim, eu até fiz um álbum, mas não tem foto dela fazendo as coisas dela, entendeu? Que nem: tem ela no casamento da nossa mais velha, toda arrumada. Mas ela não era daquele jeito, com penteado, com vestido. Sabe o jeito que eu mais lembro dela? De avental. Só que toda vez que tinha almoço lá em casa, festa e alguém aparecia com uma câmera na cozinha, ela tirava correndo o avental, ia arrumar o cabelo, até ficar de um jeito que não era ela. Tenho pensado muito nisso aí, das fotos, falo com os passageiros e tal e descobri que é assim, é do ser humano, mesmo. A pessoa, olha só, a pessoa trabalha todo dia numa firma, vamos dizer, todo dia ela vai lá e nunca tira uma foto da portaria, do bebedor, do banheiro, desses lugares que ela fica o tempo inteiro. Aí, num fim de semana ela vai pra uma praia qualquer, leva a câmera, o celular e tchuf, tchuf, tchuf. Não faz sentido, pra que que a pessoa quer gravar as coisas que não são da vida dela e as coisas que são, não? Tá acompanhando? Não tenho uma foto da minha esposa no sofá, assistindo novela, mas tem uma dela no jet ski do meu cunhado, lá na Guarapiranga. Entro aqui na Joaquim?" "Isso."

"Ano passado me deu uma agonia, uma saudade, peguei o álbum, só tinha aqueles retratos de casório, de viagem, do jet ski, sabe o que eu fiz? Fui pra Santos. Sei lá, quis voltar naquele bar." "E aí?!" "Aí que o bar tinha fechado em 94, mas o proprietário, um senhor de idade, ainda morava no imóvel. Eu expliquei a minha história, ele falou: Entra'. Foi lá num armário, trouxe uma caixa de sapatos e disse: É tudo foto do bar, pode escolher uma, leva de recordação'."

Paramos num farol. Ele tirou a carteira do bolso, pegou a foto e me deu: umas 50 pessoas pelas mesas, mais umas tantas no balcão. "Olha a data aí no cantinho, embaixo." "1º de junho de 1988?" "Pois é. Quando eu peguei essa foto e vi a data, nem acreditei, corri o olho pelas mesas, vendo se achava nós aí no meio, mas não. Todo dia eu olho essa foto e fico danado, pensando: será que a gente ainda vai chegar ou será que a gente já foi embora? Vou morrer com essa dúvida. De qualquer forma, taí o testemunho: foi nesse lugar, nesse dia, tá fazendo 25 anos, hoje. Ali do lado da banca, tá bom pra você?"


Sobre o Recordação
Por Henrique Silvério

SOBRE O " RECORDAÇÃO", DA FOLHA DE SP
Sobre o texto que tá todo mundo curtindo, esse que o cara desce ao lado da banca, sempre pensei muito parecido. 

Talvez eu seja um pouco, ou muito apático com as coisas, mas é que não me importo com as datas comemorativas, as minhas. As dos outros me importo porque as pessoas ficam felizes ao serem lembradas, mas as minhas não. Porque o dia da minha formatura não foi o dia mais importante do meu período de faculdade. Os outros dias dos 5 anos foram todos mais importantes e mais legais, os dias de pegar carona com a Si, assistir Friends com a Mari, levar foras da Bina, essas coisas.
 
Da infância, mais que os aniversários, me lembro das noites de sair pra comer pizza, de comer paçoca no parque da Dona Tilinha com meu pai. Quando tive meu escritório de arquitetura, nunca fiz um grande projeto que tenha me dado orgulho, mas nos projetos pequenos e às vezes vergonhosos, a melhor coisa era ver os clientes sorrindo porque tinham realizado algo que esperaram por anos.

Lembro mais das meias de raquetes que ganhei da D. Sônia que dos projetos propriamente ditos. O caminho às vezes, ou quase sempre, é melhor que a chegada, e das coisas que fazem nossa vida, é comum dar valor quando perdemos. Mas isso todo mundo já sabe, todo mundo já disse. Só se esquece de viver.
 
Do meu pai, talvez o que mais me doa é nunca ter dito em palavras o quanto gostava dele, apesar de saber que ele sabia. Depois de um tempo (muito tempo), sei que é melhor falar, é melhor mostrar, é melhor agir. O dia que passou não volta mais, posso fazer amanhã, mas o que teria feito ontem não dá mais, foi ontem.

As vezes fico quieto demais, cansado, meio triste, falo muita coisa pra uns e fico além da conta com outros, não devia, mas acontece. Não dá tempo de abraçar todo mundo, devia dar. 
As coisas não podem passar em branco, algumas até podem, vazio e silêncio fazem parte, mas não pode ser por muito tempo, tem que ter "coisas".

Só sei que, mesmo quebrando a cara muitas vezes, ainda prefiro tentar me expor e saber que não passou em branco.
 
Dos amigos e parentes com quem não consigo falar e viver tanto, saibam que não os amo menos, só tá faltando conseguir sentar no bar pra fazer a foto com avental.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Por que bater não é efetivo para disciplinar nossas crianças hoje?

Por que bater não é efetivo para disciplinar nossas crianças hoje?
(Crystal Lutton)

1. As crianças que se sentem mal, agem mal. Quando você as ajuda a se sentirem melhor, as suas ações melhoram.

2. As crianças fazem coisas apropriadas para sua idade. É importante detê-las quando fazem algo inapropriado, mas não há nenhuma razão para puni-las por fazer algo normal para sua idade.

3. As crianças que apanham não se sentem autorizadas a expressar sentimentos, e sentimentos acumulados vão se manifestar em outros lugares.

4. As crianças nascem sociais e querem se encaixar nisto. Quando não o fazem, ou não conseguem, é importante mostrar a elas como obter sucesso neste encaixe. Identifique e remova o obstáculo.

5. Problemas de comportamento intensos geralmente indicam necessidades alimentares, necessidades especiais, traumas ou medos infantis, e não é batendo que você vai tirar isto delas.

Crystal Lutton é escritora evangélica, autora dos livros Grace Based Living (Vida Baseada na Graça), e Biblical Parenting (Parentalidade Bíblica), não publicados no Brasil. 

[A informação de que a autora é evangélica poderia ser desnecessária, mas considerei relevante dar este destaque para mostrar que há muitos evangélicos que não aceitam a idéia da "palmada educativa", nem utilizam textos isolados da Bíblia para justificar o uso da punição corporal nas crianças.]

Cristãos dizem não à educação com palmadas

Encontrei na web um grupo chamado Grace-Based Discipline, mais um site cristão que estimula a educação das crianças pela paz (e não pela palmada), baseada nos ensinamentos do Novo Testamento e da Teologia da Graça.

"Disciplina baseada na Graça está associada a moldar o comportamento apropriado, ser gentil e firme, ensinar (disciplinar), corrigindo (admoestar verbalmente), respeitando e sendo respeitado de uma forma que só pode vir através do Relacionamento (...) O relacionamento que você cria com o seu filho prenuncia a relação que seu filho vai procurar ter com o seu Criador."

Como é agradável encontrar coisas assim...


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Como você se vê?

Comercial muito bem produzido, que vale a pena ser compartilhado pela reflexão que ele levanta a respeito da maneira como vemos a nós mesmos.

domingo, 21 de abril de 2013

Bata bem fraquinho


[acrescentando uma pitadinha de ironia e humor ao debate]

Bata bem fraquinho

Se você é patrão ou empresário, não torture um funcionário caso ele faça algo errado. Evite também espancá-lo. Apenas bata fraquinho nele, talvez um tapinha na bunda, para que ele seja corrigido antes que ele se torne um mau funcionário, ou venha até mesmo a lhe roubar no futuro. Bata fraquinho, mas não deixe de lembrá-lo que você o considera como pessoa, e que está agindo assim para ajudá-lo a aprimorar-se no serviço.

Se você é casado e teve um desentendimento com sua esposa, tente não espancá-la só porque ela cometeu alguma falha. Apenas bata nela de modo manerado, na bunda ou alguma parte que não fique marcas. Isto é importante para que ela entenda as consequências do que fez e seja protegida de fazer algo pior no futuro. O ideal é bater com uma rosa sem espinhos, para provar o quanto você a ama. E depois de bater, não esqueça de dizer "doeu mais em mim que em você".

Seu marido fez algo errado. Não parta para a agressão física desmedida por causa disso. Apenas dê-lhe uns tapas. Não muito fraco de modo que ele não sinta nada, mas também não muito forte para ele saber que você o ama mesmo assim. Faça isso para que ele não venha depois a cometer besteiras maiores e ainda reclamar que foi você quem não lhe deu limites.

Você é uma professora e uma aluna sua não realizou a tarefa para casa. Por favor, não a espanque, pois você é radicalmente contra qualquer forma de violência. Apenas bata na mão dela até ficar avermelhada, para que a aluna, ao olhar para a mão vermelha em casa, não esqueça de fazer a tarefa no dia seguinte. Porém, assegure-se de que ela entenda que você a respeita como aluna e está fazendo isso para o próprio bem dela.

Portanto, se você tem algum problema com alguém, seja funcionário, empregado, vizinho, marido, esposa, aluna etc, lembre-se: "bater fraquinho" não causa nenhum problema, não é agressivo. Bater mais forte, espancar, isto sim seria uma conduta violenta e recriminável. 

Aí você me pergunta: Como saber a medida? Qual o limite entre o bater fraco e forte? Qual a diferença entre um tapa, uma palmada, um soco, um espancamento?  

Bem... vá batendo até descobrir.


Espero que tenha gostado dos conselhos acima.
Porém, se você não concorda com eles, e não acredita que seja possível resolver conflitos conjugais dando pequenos tapinhas no parceiro, ou não confia na eficácia corretiva de uma palmada na bunda de um funcionário, ou não consegue ver eficiência no emprego de um tapa "fraquinho mas bem dado" num aluno para ensiná-lo a ter responsabilidade... então parabéns!

Isto significa que você também não acredita na eficácia das "palmadinhas pedagógicas" para educar uma criança.



UPDATE
[Por sugestão da Patrícia Cunha, foi acrescentada ao texto a tradicional expressão "doeu mais em mim que em você", pois ela é comumente encontrada nestas situações]

sexta-feira, 29 de março de 2013

Páscoa

A vida é feita de pequenas ressurreições diárias, de contínuos recomeços, de delicadas restaurações. Se somos sensíveis a estes movimentos, fica mais fácil compreender o real significado da celebração da Páscoa. 
A história do triunfo de Jesus sobre a Morte é a inspiração que podemos ter para enfrentar - e superar - as nossas pequenas mortes de todos os dias.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Entrevista sobre violência infantil

Nesta semana tive a honra de ser entrevistado pelo website Mamatraca, para falar a respeito de violência infantil.
Você pode conferir a entrevista clicando na imagem abaixo, e aproveitar pra conhecer o site delas, que é muito legal.


quarta-feira, 20 de março de 2013

A primeira birra a gente nunca esquece

Quando meu filho tinha dois anos, chegou a hora dele nos “presentear” com a sua primeira birra clássica. Era de noite, hora de mamar na cama e dormir. Porém, ele queria mamar na sala em frente à televisão, o que era algo que não queríamos que ocorresse. Colocamos o menino no quarto e ele começou a chorar alto, ficar de pé no berço, pedindo para ir pra sala. Como não é um hábito que queríamos incentivar, achamos que ceder naquele momento abriria brechas para que em outros dias o mesmo pedido se repetisse. Assim, ficamos firme na posição “você vai mamar no quarto porque é hora de dormir”. Ele não aceitou e começou a chorar mais alto e gritar.

Eu iria assistir futebol e minha esposa que estava com ele no quarto me chamou pedindo ajuda. Entramos os dois no quarto, fechamos a porta e repetimos a ordem de não sair do quarto. Minha esposa o pegou no colo e ele continuou gritando. Ele levantava e ia em direção à porta querendo sair. Sentei-me no chão à frente da porta e disse: papai e mamãe estão aqui contigo pra te ajudar a passar por essa birra. Nós não vamos bater em ti de jeito nenhum, mas nós vamos te ajudar. Do quarto ninguém vai sair, essa é a posição do papai e da mamãe. Seu choro não vai mudar isso. Se quiser pode deitar aqui no chão, ou voltar pro berço, onde preferir, mas do seu quarto você não sairá, ok?

Aguentamos firmes a birra inicial e ele, que já estava com sono, foi cedendo aos poucos à nossa posição. Enquanto eu me mantinha sentado no chão obstruindo a porta, minha esposa voltou a abraçá-lo forte, mesmo que ele a princípio não quisesse. Este contato de corpos que se dá no abraço firme, apesar da resistência inicial da criança, é muito mais seguro para ela do que um contato rápido de um tapa na bunda. O tapa aumenta a ansiedade, o abraço acalma.

Aos poucos ele foi se tranquilizando, resolveu deitar numa almofada no chão, que era uma parte de nossa negociação com ele que podíamos aceitar. Pegou a mamadeira ainda choramingando, mas já sem a intensidade de antes. Ficamos ali no escuro do quarto, em silêncio, dando a nosso filho a nossa presença firme. Minha esposa no sofá-cama, eu sentado no chão e nosso filho mamando deitado sobre a almofada. Uma cena aparentemente cômica, mas que foi fundamental para mostrar a nosso filho quem é a autoridade aqui em casa.

Esta foi a primeira birra dele. E a última. Em nenhum outro momento nos anos seguintes ele repetiu tal comportamento. Foram aproximadamente cinquenta minutos de “luta” com nosso filho até ele dormir tranquilo, sem precisar apelar para nenhum tipo de punição física.

Quando terminou tudo, vi que o segundo tempo da partida de futebol que eu iria assistir naquela noite já havia terminado. Não estou lembrado se meu time ganhou ou perdeu naquela noite.

Mas a minha família ganhou.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Autoridade

Nos debates sobre punição física infantil, há uma idéia que circula habitualmente: os pais precisam às vezes dar uma palmada na criança para mostrar a sua posição de autoridade na família. 

Poi eu sugiro um raciocínio diferente: a palmada, ao contrário de afirmação de autoridade, é consequência da sua ausência. 

Quando um cuidador perde a autoridade, fica mais vulnerável a atitudes de descontrole e impaciência, mais próximo de “perder as estribeiras”. 

Se queremos que nossos filhos confiem em nossa autoridade, nosso desafio é mostrar-lhes não apenas que somos maiores ou mais fortes, mas que somos adultos que buscam enfrentar adversidades e irritações com auto-controle e maturidade. 

Isto servirá de exemplo para a criança, e será um modelo emocional muito mais eficaz que uma palmada, surra ou gritaria.

segunda-feira, 4 de março de 2013

O mundo mudou

Ao questionar o uso da punição física como forma de educar as crianças, não estamos enfatizando a idéia de que todos que levam palmadas viram bandidos ou pessoas agressivas. Esta é uma interpretação muito rasa. É claro que muita gente que levou palmada na bunda quando criança não se transformou num perigo pra sociedade. 

Não é disso que estamos tratando. Estamos falando de ensinar a criança, com nosso exemplo, que nós temos o desafio de encontrar alternativas não violentas - sejam elas em qualquer grau - para resolução de conflitos. 

Entendo quando as pessoas argumentam que “na sua época” levaram palmadas e nem por isso tornaram-se bandidos ou pessoas com problemas. 

Provavelmente, essas pessoas que, assim como eu, viveram “essa época”, também vão se lembrar, por exemplo, de que quando eram crianças andavam tranquilamente de carro sem a necessidade de usar cinto de segurança - aliás, a maioria dos carros nem possuía tal recurso. 

Pergunto-me se essas pessoas hoje colocam cinto de segurança em seus filhos pequenos ou acreditam que pelo fato das crianças daquela época não usarem cinto, então as de hoje também não necessitam. 

Tudo bem, estas pessoas argumentarão que a situação é diferente, que o trânsito hoje está muito mais violento que tempos atrás. 

Concordarei, e responderei que a sociedade atual - não apenas o trânsito - está mais violenta em comparação com a de “nossa época”. 

Talvez estas pessoas que, assim como eu, viveram "essa época", também hão de lembrar-se, por exemplo, que na nossa infância ficávamos brincando na rua até tarde da noite, sem a supervisão constante dos pais. 

Pergunto-me se estas pessoas hoje têm uma preocupação maior em relação à segurança de seus filhos, não permitindo que fiquem sozinhos pelas ruas até tarde da noite, ou sentem-se tranquilas em fazer da mesma maneira que seus pais faziam à epoca em que eram crianças. Afinal, se antigamente não havia tal preocupação, então hoje poderíamos relaxar e deixá-las à vontade, pois "assim era na nossa época". 

Ok, provavelmente argumentarão que a situação hoje é completamente diferente, que a violência urbana está desenfreada. 

Concordarei: realmente, a violência urbana vem crescendo a cada dia. E direi que esta "violência urbana" não é uma entidade isolada que aparece apenas nas nossas ruas, mas é fruto de um contexto muito mais amplo, cujo núcleo formador encontra-se na banalização cultural da violência, quando não nos damos conta das pequenas práticas de violência cotidiana, dentro até mesmo de nossas protegidas casas. 

Como todos nós já percebemos, o mundo mudou. 

O trânsito ficou mais violento, e os pais mudaram a sua conduta com as crianças nos veículos, usando o cinto de segurança, ou não permitindo que elas viajem no banco da frente. Na "nossa época" não havia nada disso, lembram? Mas hoje não há pai responsável que aceite a idéia de negligenciar tais regras de segurança.  

As ruas também ficaram mais violentas, e nós pais tivemos que mudar nossas regras para garantir maior proteção a nossos filhos. Hoje em dia, não há pais responsáveis que não estejam muito mais atentos aos locais que suas crianças frequentam, às pessoas com as quais elas se relacionam, ou aos horários em que elas devem estar em casa, a fim de promover sua segurança. 

Não ter usado cinto de segurança na infância não nos matou. Brincar despreocupadamente até mais tarde na rua não fez a gente ser sequestrado naquela época. Mas nem por isso nós deixamos de nos adaptar, e hoje mudamos nossas práticas nestas áreas. 

Levar uma palmada pode não ter causado nenhum trauma em nós, pode não ter nos transformado em crimonosos. Mas por que insistir numa prática que vai contribuir com a banalização da violência? Por que não oferecer às nossas crianças alternativas educacionais mais conectadas com uma cultura de paz e afetividade? 

Éramos crianças em outra época. A violência, apesar de já enraizada na nossa cultura, não era tão banalizada, tão naturalizada, tão visível. 

Mas os tempos são outros. A cultura da violência está aí nas nossas ruas, nas nossas portas, nos noticiários, no trânsito, nas gritarias que ecoam do apartamento vizinho - ou até do nosso mesmo, nas pessoas andando armadas, nos bullyings nas escolas, nos “esportes” que valorizam socos, sangues e pontapés - e que hoje ganharam até o horário nobre da Globo. 

Como romper com esta cultura? Começando em casa. Valorizando o diálogo ao invés da gritaria. Valorizando o toque afetuoso ao invés do tapa. Valorizando o respeito ao invés da zombaria. Valorizando a paz ao invés da violência. Valorizando a autoridade assertiva ao invés da palmada. 

Não se trata apenas de “não espancar”. Isto seria o mínimo esperado de pais responsáveis. Trata-se de encontrar meios diferentes e eficazes de se educar pela paz, sem aceitarmos passivamente qualquer forma de agressão física.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

À deriva


Seria difícil conceber castigo mais demoníaco, pudesse uma tal coisa ser posta em prática, do que abandonar uma pessoa à deriva na sociedade por forma a passar despercebida a todos os seus membros. Se ninguém se voltasse para nós ao ver-nos entrar em casa, se ninguém nos respondesse quando nós falássemos, ou se preocupasse com o que fizéssemos, mas se toda a gente que conhecêssemos nos «desligasse do mundo» e agisse como se fôssemos entidades inexistentes, não tardaríamos a ser tomados de uma espécie de desespero de raiva e impotência, de que a mais cruel das torturas corporais seria um alívio.

William James (1842-1910), filósofo e psicólogo

domingo, 24 de fevereiro de 2013

O mais importante

Um homem brincava com o filho e seus coleguinhas da escola. A criançada estava se divertindo bastante, quando uma menina, com sua sinceridade infantil, dirigiu-se a ele:
- Tio, você é meio feio né?
- Pois é. Você sabe que eu também não me acho muito bonito não? Mas posso perguntar uma coisa pra vocês?
- Pode!
- Quem aqui acha que eu sou um cara legal?
- Eeeeuuuuu - a garotada respondeu em coro.
- É mesmo? E por que vocês acham isso?
- Porque você conversa com a gente, brinca com a gente... - respondeu um dos meninos.
- Ah, isso me deixa muito feliz. Querem saber por que?
- Siiiiiimmm!!
- Porque ser uma pessoa legal é muito mais importante que ser um cara bonito.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Que seja bem mais que um teatro...

Importante esta fiscalização nas casas noturnas. Jovens se unindo em torno de uma mobilização buscando uma maior segurança para suas baladas. Gente tirando fotos das irregularidades e enviando pros jornais, pessoas denunciando casas noturnas. Muito bom isto.

Mas como seria bom ver essa galera fazendo também uma grande mobilização exigindo fiscalização na saída destas casas para averiguar quantos estão pegando carro após ter bebido.

Afinal, quantas destas baladas acabam em acidentes fatais pelas ruas da cidade?

Se todos queremos segurança na balada, que se faça também blitz intensa com bafômetros na saída de cada casa noturna.

As nossas famílias e os próprios baladeiros ficarão agradecidos.

Do contrário, estaremos apenas participando de um teatro hipócrita.

O Carnaval está aí. Que tal aproveitar para começar uma operação dessas?

sábado, 26 de janeiro de 2013

O que está no ar...

No início de novembro, na hora do almoço, a seguinte conversa aconteceu entre meu filho de quatro anos e eu:

- Pai, quando você acabar o seu trabalho, você vai lá no shopping, passa na RiHappy e compra um presente pro meu irmãozinho.
- Mas a mamãe não tá grávida, filho.
- Mas pai, a gente já comprou um presente pro irmãozinho, lembra?
- Lembro sim, mas aquele irmãozinho que tava na barriga da mamãe era bem pequeninho, desse tamanhinho, e ele não conseguiu crescer, ele morreu na barriga da mamãe, você lembra disso?
- Lembro, mas é porque aquele bebezinho era uma menina, e a menina não queria sair lá de dentro. Agora eu acho que vai nascer um menino.

Alguns dias depois deste papo, eu e minha esposa descobrimos que estávamos grávidos.
E ontem, o nosso ultra-som confirmou o que meu filho pressentiu em novembro: que vai nascer um menino.

Esta pequena história pode ser apenas uma interessante coincidência, e que a gente que é pai já leva pro nosso lado coruja de ser. Pode ser. Porém, ela inevitavelmente me remete a um fenômeno que há tempos venho percebendo no meu convívio com as crianças, tanto no contexto profissional quanto pessoal: a incrível capacidade que elas têm de captar fatos, experiências e sentimentos, de perceber o não dito, de serem sensíveis a sinais que estão no ar.

Isto me leva a outro pensamento: nós muitas vezes subestimamos esta habilidade infantil, e moldamos o nosso relacionamento com a criança baseados na crença de que ela não entende o que estamos falando, ou de que ela nem percebe o que está acontecendo. Equívoco nosso. Ela percebe. O que pode ocorrer é que ela, por sua inexperiência, não consegue decifrar aquilo que ela está percebendo. As tentativas de interpretar o que está no ar e de dar significado ao que ela está sentindo levam a criança a fantasiar situações. Na ausência de esclarecimentos, ela sai em busca de tentar tirar as suas próprias - e limitadas - conclusões. Tais conclusões, muitas vezes, apresentam-se piores do que a própria realidade que ela está tentando compreender.

Por isso, a cada dia sinto-me mais convencido de que a melhor maneira de ajudarmos as nossas crianças a vivenciarem as experiências da vida consiste em desenvolver com elas uma relação de honestidade e transparência, qualidades imprescindíveis para mantê-las saudáveis emocionalmente.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Como ajudar uma criança a gostar de ler?


É quase unanimidade a idéia de que ler faz bem para o desenvolvimento de uma mente saudável. 

Baseados nisto, muitos pais têm um grande desejo de que seus filhos se tornem bons leitores, mas nem sempre sabem muito bem como podem ajudá-los.

Comecemos pelo óbvio: seu filho terá maior probabilidade de gostar de livros se você, pai/mãe, também gosta. O princípio é simples. Se a criança percebe que você se relaciona bem com os livros, a leitura poderá ser vista por ela como algo natural.

Compartilho aqui algumas simples idéias para incrementar a relação do seu filho com a literatura. 

Obviamente, elas não são garantia de que eles se tornarão leitores vorazes, mas talvez possam ajudá-los a desenvolver um primeiro contato com o gosto pela leitura.

Amiguinhos compartilhando um livro

1. Não é preciso esperar a criança aprender a ler para colocá-la em contato com um livro. Você pode dar a ela, desde muito pequena, livros de pano, livros de plástico etc. Os livros podem ser introduzidos na vida da criança como objetos para brincar, e isto poderá contribuir com que ela veja o contato com um livro como algo lúdico e não enfadonho;


2. Toda vez que você adquirir um livro novo, conte para ela, mostre a capa, diga o nome do livro, e que história está contida nele, o que você pretende aprender com ele. Permita com que ela perceba a relação que você tem com os seus livros;


3. Frequente livrarias com a criança, sente-se com ela na seção infantil, descubra os livros junto com ela, permita que ela mexa neles, estimule-a a encontrar algum que ela ache legal;

Visitinha à livraria só pra estar entre livros

4. Leia para seu filho, tentando criar um pequeno hábito de leitura para ele, de preferência por curto tempo inicialmente, veja se ele está interessado na história. Tente contar a história de maneira inventiva, dramatizando um pouco os personagens e as falas.

Uma cabaninha para leitura

5. Quando pedir livros pela internet, possibilite que a criança participe do momento da compra, ou às vezes, veja se ela gostaria de escolher algum pequeno livro para incluir no pedido. Quando chegar pelo correio, convide a criança para abrir a encomenda junto com você, brinque com a expectativa sobre qual livro será, que história nova ele vai contar etc... (aqui em casa, mesmo quando a encomenda chega e a criança não está em casa, eu seguro minha ansiedade pra abrir só quando ela chegar, e geralmente a hora de abrir o pacote é uma pequena festa em família)

Descobrindo as estantes de uma biblioteca

6. Se possível, assine gibis ou alguma revista infantil, e valorize o dia da chegada da edição;

Quem já sabe ler lê pra quem ainda não lê

7. Leve a criança para um passeio pela biblioteca da cidade (ou da universidade), dizendo que vão visitar "a casa onde moram os livros". Explore junto com ela os locais dos livros, ande por entre as estantes, coloque-a em contato direto com o acervo, mostre as pessoas sentadas às mesas lendo os livros. Geralmente as crianças ficam fascinadas com o número de livros que moram naquela casa.

Passeio na casa onde moram os livros

8. Em casa, uma idéia simples é brincar de livraria com a criança. Com alguns livros e revistas, uma mesinha, e um pouco de criatividade, dá pra montar uma linda "livraria" na sala da casa. Você pode ser o comprador, à procura de livros interessantes para para dar de presente ou levar pro seu filho, e pode pedir ajuda ao livreiro, que no caso pode ser a criança. Ou é claro, pode-se alternar conforme a brincadeira vai se desenvolvendo. O legal é deixar a criatividade comandar a brincadeira...

O "livreiro" em sua linda livraria na sala do apartamento

Não tenho a pretensão de dar por encerrada a lista de sugestões. Sei que muitas outras idéias podem ser praticadas e descobertas por muitas outras pessoas.

Estas que acabo de compartilhar são pequenas atitudes que busco no meu dia-a-dia com meu filho, na esperança de que ele faça do Livro um companheiro para sua vida. A escolha será dele, mas estou tentando dar a minha contribuição.

E você, que idéias utiliza com seus filhos? Compartilhe com a gente aqui nos comentários. Será muito edificante conhecer outras sugestões.



quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Segundo Tempo

Amanhã, dia 04, chego aos 45. Fim da etapa inicial. 

Começo agora o segundo tempo, com algumas lições extraídas do primeiro:

Atacar não é tudo. Administrar uma partida requer paciência e atenção em várias áreas além do ataque. Há momentos em que ficar tocando a bola na intermediária pode ser mais efetivo do que invadir a área do adversário. Cadenciar a partida pra evitar desgaste pode ser, às vezes,  uma boa estratégia.

Jogar com o time é melhor que jogar sozinho. Lá pelos 16 minutos, eu costumava pegar a bola e sair driblando todo mundo - fui até apelidado de “baila comigo” nas peladas da rua da praia do Bom Abrigo. Hoje vou pro segundo tempo com a certeza de que não se faz jogo sem os companheiros de equipe. Trocar passes, receber assistências, deixar o colega na cara do gol, receber um cruzamento na medida para o cabeceio. 

Levar gol não é problema, desde que a gente coloque o bola no círculo central e reinicie a partida. De vez em quando acontece mesmo. Um pequeno descuido, e tomamos um gol. Ás vezes sai até gol contra, quando jogamos contra o nosso próprio patrimônio. O negócio, nessas horas, é correr pra dentro da baliza, pegar a bola e dirigir-se ao centro do campo. Começar de novo...

Nem todo gol tem que ser de placa. Isso é bobagem, gera expectativas desnecessárias para a partida. Estou entrando no segundo tempo despido destas pretensões que atrapalham mais que ajudam. Tenho aprendido que quando estamos relaxados em campo, sem preocupações com grandes atuações, aí sim estamos livres para atuar, driblar, e quem sabe até fazer uns golzinhos de placa de vez em quando.

Agradeço ao meu Técnico, que me manteve em campo durante todo este primeiro tempo, dando-me condições de jogo, e que apesar de conhecer profundamente as minhas limitações, ainda assim continua acreditando em mim e me ensinando a jogar.

Haveria muito mais a dizer, mas não quero ficar pensando nisso agora. 
Eu quero é ir pro Segundo Tempo.