sexta-feira, 25 de maio de 2012

A estória do martelo

Um homem queria pendurar um quadro. O prego ele já tinha, só faltava o martelo. O vizinho possuía um, e o nosso homem resolveu ir até lá pedi-lo emprestado.

Mas ficou em dúvida: 

"E se o vizinho não quiser me emprestar o martelo? Ontem ele me cumprimentou meio secamente. Talvez estivesse com pressa. Mas isso devia ser só uma desculpa. Ele deve ter alguma coisa contra mim. Mas por quê? eu não fiz nada! Ele deve estar imaginando coisas. Se alguém quisesse emprestar alguma ferramenta minha eu emprestaria imediatamente. Por que ele não quer me emprestar o martelo? Como é que alguém pode recusar um simples favor desses a um semelhante? Gente dessa laia só complica a nossa vida. Na certa, ele imagina que eu dependo dele só porque ele tem um martelo. Mas, agora chega!"

E correu até o apartamento do vizinho, tocou a campainha, o vizinho abriu a porta. Mas antes que pudesse dizer "Bom Dia", o nosso homem berrou: 

"Pode ficar com o seu martelo, seu imbecil!" 



Paul Watzlawick
Extraído do livro: Sempre Pode Piorar ou A Arte de Ser (In) Feliz - Uma abordagem psicológica
Editora Pedagógica e Universitária Ltda, 1984

segunda-feira, 14 de maio de 2012

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Pai de Menina

Eu sou pai de um menino. Mas compartilho do pensamento exposto nesta excelente reflexão do Cezar Tridapalli, publicado no website Mídia e Educação.


PAI DE MENINA

Eu sou pai de uma menina. Ela ainda é bebê.

Era uma vez uma festa entre amigos. Naquela confluência de vozes, conversas com início e sem fim, brincadeiras de toda ordem, tentativas de engatar papos sérios, você conversa com um ouvindo a conversa do outro, eis que vem um amigo, pai de menino, com o seu bebê no colo e diz para ele, referindo-se a mim: “filho, o nome desse tio é sogro”. Eu ri, evidentemente, e não vi qualquer mau gosto no tipo de insinuação brincante que havia no modo como ele me apresentava ao filho menino.

Mas há casos diferentes. Outra vez, já outra era a ocasião, minha filha zanzava em uma sala com outros bebês, meninos e meninas. Um dos meninos, talvez sem ter feito dois anos, se aproximou dela e, incentivado pelos pais, abraçou a minha pequena. Tudo muito cuti-cuti, é claro, mas o discurso vindo dos adultos me deixou com uma pulga atrás de cada orelha. Veja se exagero ou se há alguma razão no que digo: o que vi junto com a tentativa de abraço foi o pai do menino insinuando — insinuando nada, falando às claras — que seu filho já demonstrava todos os indícios de que seria pegador (uma criança de dois anos abraçando um bebê de um ano e meio, alguma novidade?) e que era melhor eu começar a proteger a minha “princesinha”.

Já noutra oportunidade, quando me levantei de uma cadeira para assistir a alguma cena de abraço e beijo similar (todos estavam olhando, ficaria até chato se eu me mostrasse indiferente), vi um coro de vozes se dirigindo a mim: “ah, olha o pai ciumento já querendo proteger a filha” e outras vozes esparsas sugerindo que ela teria muitas dificuldades e que eu não mediria esforços para salvaguardá-la das garras dos lobos maus.

Talvez seja divertido pensar em um pai com espingarda em punho obrigando um sujeito a casar com sua filha. Mas isso lá no casamento caipira das festas juninas.

Vou confessar uma coisa da qual me envergonho: critico algumas posturas exageradas, mas sou admirador das lutas feministas. Porém, aí vem o motivo da minha vergonha, eu não reparava tanto assim no quanto elas ainda são vistas como seres-objeto sem vontade, sem pensamento próprio. Parece mesmo que não há um sujeito consciente nesse ser de carnes e ossos, e cérebro. E estou falando para além do clichê mulher-garota-propaganda-de-cerveja.

Estou falando de bebês com um ano e meio, dos quais os meninos já parecem prontos para anunciar seu futuro predador quando, na verdade, estão demonstrando um afeto comum em qualquer bebê, às vezes genuíno, às vezes automático, seguindo a cartilha e o comando de voz dos adultos. E às meninas, as tais “princesinhas” (tenho uma cisma muito grande com essa expressão, mas isso é tema para outro post), fica reservado o posto de passivas e indefesas, que dependem de uma figura paterna e, portanto, masculina, para, tal qual a figura do lenhador viril, caçar lobos e restaurar a paz.

Se nenhum adulto falará tão bem uma língua como fala a sua língua materna, talvez haja uma relação entre os valores que aprende já na chamada tenra idade (pura e mera e deslavada especulação minha, ok?). Se bebês já crescem ouvindo que seus papéis biológicos e sociais são pré-definidos e já estão formatados, qualquer outra postura e comportamento na vida adulta só será capaz de ser assumida com muita dor e causando muito choque moralista. Talvez outro clichê, aquele que sempre termina dizendo “vem do berço”, seja bastante aplicável aqui.

Crianças de todo o mundo, uni-vos, abraçai-vos, beijai-vos, transmiti vossos vírus de gripe e vossos piolhos umas às outras, mas não vos deixeis cair na tentação de transmitir o vírus dos estereótipos, dos mitos de fragilidade sem cérebro e da brutalidade viril — e também sem cérebro —, incapazes de se abrirem para a ternura e para o discernimento entre o comportamento humano, social e natural, e o comportamento bestializado dos preconceitos, estes também humanos, mas nem um pouco naturais.

Aquele abraço.
Cezar Tridapalli

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ser Mãe e ser mãe



Acho que a parte mais difícil de ser mãe é ter que conviver com o Mito de Ser Mãe. Meu desejo para este Dia das Mães é que cada mãe seja livre. Livre para não ter que amar o tempo inteiro, livre para errar, livre para se escabelar, livre para não se responsabilizar por tudo, livre para não aceitar as exigências da perfeição. O paradoxo nisso tudo é que livre destas amarras, você será muito mais mãe.