Soube esta semana que na novela global das 18h a atriz Carolina Kasting
faz o papel de uma psicóloga que mistura as suas crenças religiosas com o
exercício de sua profissão.
Procurado por algumas pessoas que assistem a novela e me questionaram
sobre a relação entre psicologia e terapia de vidas passadas, fui dar uma
olhada no enredo desta história.
A primeira coisa que descobri foi que a tal psicóloga atende uma criança
que é filha de um amigo, o que já é algo eticamente questionável. Vi uma cena
em que ela aparece com este amigo numa mesa de lanchonete, conversando
informalmente sobre a menina que ela está atendendo. Mais uma situação
anti-ética da personagem.
Mas o tema deste post é sobre um outro aspecto que considero grave: a prática profissional da personagem psicóloga está associada a uma técnica que não é reconhecida pelo Conselho
Federal de Psicologia: a terapia de regressão de vidas passadas.
O exercício profissional de um psicólogo é pautado pela cientificidade e centralizado no
sujeito em seus aspectos psicológicos, biológicos e sociais. Portanto, qualquer
prática que esteja associada a crenças místicas e espiritualistas não possui
consistência teórica que atenda ao rigor científico e metodológico necessários
para ser reconhecida como atribuição do psicólogo.
Não se trata de desvalorizar as terapias alternativas, mas de
diferenciá-las do exercício do psicólogo. Há inclusive uma resolução do CFP que
proíbe a associação do número do registro profissional a qualquer destas
práticas.
Portanto, a chamada “terapia de vidas passadas” não é atribuição do
psicólogo. Não tem cientificidade nem consistência para tal. É uma técnica que está situada no terreno da fé e da religiosidade, e não no terreno da psicoterapia.
Se o psicólogo quer oferecer algum tipo de prática espiritualista, o que
é um direito seu como cidadão, ele deve separá-la da sua atividade como
psicólogo, pois do contrário ele estará induzindo as pessoas ao engano e ao
erro. Ao psicólogo é vedado “induzir a convicções políticas, filosóficas,
morais ou religiosas, quando do exercício de suas funções profissionais”.
(Artigo 2º do Código de Ética do Psicólogo, item
“e”)
Psicologia é coisa muito séria, e é lamentável ver
uma empresa do porte da Rede Globo tratá-la com esta aura de misticismo, o que
compromete a imagem da profissão no país e contribui para causar confusão na
mente de seus milhões de telespectadores que ficam grudados na telinha.