segunda-feira, 22 de agosto de 2011

As três coisas que descobri quando meu avião caiu

Um dos passageiros do vôo 1549, o avião que fez pouso forçado no rio Hudson, em Nova York em janeiro de 2009, relata o que passou pela sua mente naquele episódio, e nos sugere uma importante reflexão.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Amy Winehouse e a Cultura da Autodestruição

[Texto meu que está sendo publicado na edição de agosto da Revista Estação Aeroporto]




Aqui vai mais um texto falando sobre Amy Winehouse - e talvez você diga não, não, não!

Entendo sua possível aflição, mas espere um pouquinho. Afinal, pelo misto de surpresa e previsibilidade que cerca a morte de Amy, seria mesmo de se esperar que o assunto não morresse em poucos dias.

Aos 27 anos, Amy era uma artista com grande talento musical, apesar de seu pouco tempo de vida artística. Apenas dois álbuns, um terceiro quase pronto, mas uma promessa de amadurecimento e continuidade de sua obra. Promessa, não fosse o seu outro “talento”, o de autodestruir-se. Dois talentos tão antagônicos presentes numa só vida: talento criativo e “talento” autodestrutivo.

Mas vamos um pouco mais além. Talvez nem seja tão antagônico assim. Talvez a convivência destes dois talentos seja fruto de uma sociedade que vê a droga como fonte de criatividade e inspiração, e de uma cultura que valoriza o comportamento destrutivo como símbolo de rebeldia e irreverência.

Assim, a indústria do entretenimento vai criando seus ícones, transformando-os em heróis - nossos heróis morreram de overdose, lembram disso? -, e mais curioso ainda, fazendo deles referências e modelos a ser seguidos ou idolatrados.

Se criação e autodestruição formam um par, a aliança que os une é o abuso de substâncias, expressão que sempre me soou emblemática e contraditória. Afinal, a pessoa começa abusando das substâncias, mas em pouco tempo, as substâncias é que passam a abusar da pessoa.


Foi assim com muitos talentos, é assim com milhões de desconhecidos diariamente, e não foi diferente com Amy Winehouse. As substâncias assumiram o controle de sua vida, a ponto de impedir que o próprio talento criativo tivesse mais espaço. Pois, ironicamente, a bebida e as drogas que no início a faziam subir ao palco, foram exatamente as que a expulsaram pateticamente de lá, sob vaias do público, que muitas vezes alimenta a ilusão de que o abuso das drogas fica restrito a um território privado da vida, sem conseqüências mais amplas.

A autodestruição pela via das drogas não necessariamente é apenas uma escolha, como alguns tentam argumentar. Ela pode estar associada a alguma doença, uma depressão, um transtorno psicológico, ou alguma situação de crise difícil de lidar.

Mesmo quando pensamos na drogadição como uma escolha pessoal, ainda assim tal liberdade de escolha é duvidosa, pois a partir de um determinado momento, o usuário já não se encontra mais em condições de escolher, mas apenas de obedecer às escolhas da própria droga.


Visto desta maneira, relacionar-se com as drogas é como – perdoem-me a obviedade - brincar à beira de um precipício, ou como um jogo nos moldes de uma roleta russa, de onde só sai vivo quem tem sorte.

Felizmente, alguns têm essa sorte, como o guitarrista e compositor Eric Clapton. Sua experiência compartilhada no seu livro autobiográfico (Clapton, a Autobiografia - Editora Planeta, 2007) é um exemplo de superação diante da luta contra a dependência:

“Certo dia, quando minha internação estava chegando ao fim, o pânico me atingiu, e percebi que de fato nada havia mudado em mim, e eu estava voltando ao mundo mais uma vez completamente desprotegido. O ruído em minha mente era ensurdecedor, e a bebida estava em meus pensamentos o tempo todo. Fiquei chocado ao perceber que estava em um centro de tratamento, um ambiente supostamente seguro, e estava em sério perigo.
Naquele momento, quase que por si mesmas, minhas pernas cederam, e caí de joelhos. Na privacidade de meu quarto, implorei por socorro. Eu não atinava com quem estava falando, sabia apenas que havia chegado ao meu limite, não me restava mais nada para lutar. Então lembrei do que tinha ouvido falar sobre rendição, algo que pensei que jamais conseguiria fazer, que meu orgulho simplesmente não permitiria, mas entendi que sozinho eu não teria sucesso, por isso pedi socorro e, caindo de joelhos, me rendi.
Em poucos dias percebi que havia acontecido alguma coisa comigo. Um ateísta provavelmente diria que foi apenas uma mudança de atitude, e em certa medida é verdade, mas foi muito mais que isso. Encontrei um lugar a que recorrer, um lugar que sempre soube que estava ali, mas em que nunca realmente quis ou precisei acreditar. Daquele dia até hoje, jamais deixei de rezar de manhã, de joelhos, pedindo ajuda, e à noite para expressar gratidão por minha vida e, acima de tudo, por minha sobriedade. Prefiro me ajoelhar porque sinto que preciso ser humilde quando rezo e, com meu ego, isso é o máximo que posso fazer.
Se você está perguntando por que faço tudo isso, vou dizer: porque funciona, simples assim. Em todo esse tempo em que estou sóbrio, nenhuma única vez pensei seriamente em tomar um drinque ou usar alguma droga. Não tenho problema com religião e cresci com uma forte curiosidade sobre modelos espirituais, mas minha busca afastou-me da igreja e da veneração em grupo rumo a uma jornada interior. Antes de minha recuperação ter início, encontrei meu Deus na música e nas artes, com escritores como Herman Hesse, e músicos como Muddy Waters, Howlin' Wolf e Little Walter. De algum jeito, de alguma forma, meu Deus sempre esteve ali, mas agora eu havia aprendido a falar com ele.” (p. 281)

O destino de Amy Winehouse não seguiu no mesmo rumo. As substâncias abusivas a derrotaram. De sua história, ficam o talento, a criatividade, a fragilidade, e a sua última mensagem, escrita com a própria vida: “drogas matam”.


domingo, 7 de agosto de 2011

Você nunca vai fazer 28

Para quem curte música e quer se divertir com um texto publicitário inteligente: a revista Billboard desse mês traz um texto escrito pela Senhora Morte, que derruba o mito da “Maldição dos 27 anos”. Divertidíssimo. A redação é de André Kassu, com direção de arte de Marcos Medeiros, direção de criação de Luiz Sanches e ilustração de Arthur d´Araújo e Tiago Pinho.



Você nunca vai fazer 28

Oh, agora vocês falam de uma maldição dos 27 anos. Misturam teorias conspiratórias, buscam explicações na numerologia, apelam para a astrologia. Então, eu levaria Jim Morrison e Jimi Hendrix pelo simples fato de que eles nasceram sob o signo de Sagitário? Poupem-me.
Mistificar o simples é algo tão humano que me traz uma sensação rara: sorrir. Resolvi, portanto, dar algumas respostas. Não é isso que vocês vivem procurando?

Antes de qualquer coisa, Brian Jones foi um engano. Logo, toda a teoria da maldição dos 27 é baseada em um erro. Um erro primário, confesso. O meu alvo era Keith Richards, mas estava em uma péssima noite. Adoro Brian, ele é muito talentoso, acredite, pois o ouço todos os dias. Não tinha motivos para levá-lo.

Ele tinha sido expulso da banda, estava triste e minha encrenca era com Mick e Keith. Muito por causa daquela canção Sympathy for the Devil. Eu adoraria que aqueles versos tivessem sido escritos para mim. Então, resolvi usá-los contra Keith. Cheguei cantando: Please allow me to introduce myself, I'm a man of wealth and taste, I've been around for a long, long years... Mas atingi Brian.

Em troca, dei a Keith todos os anos de vida que Brian teria direito. E isso, apenas isso, explica o fato dele estar vivo. Ele não é um sobrevivente, eu que me senti culpada. Ele pode subir em coqueiros, tomar doses cavalares de bebida e continuar andando, porque eu, um reles imortal, cometi um pequeno deslize.

Voltemos aos fatos como eu vivi, ou morri. Jimi Hendrix veio depois. Mas preste atenção nessa letra: angel came down from heaven yesterday, she stayed with me just long enough to rescue me. Ok, não sou um anjo. Mas entendo a metáfora como quiser e levei ao pé da letra.

Achava que era comigo que ele estava falando. Aproveito para acabar com um dos mitos que me cercam. Jimi Hendrix não toca com Stevie Ray Vaughan, nem faz jam sessions com Charlie Parker.

Seria injusto ouvir algo que você, mortal, nunca ouviu. Sim, eu tenho um senso de justiça. Ou você acha que é à toa que inúmeras versões inéditas surgem após a morte? Que, por décadas, esses artistas mantenham a presença nos rankings de venda? Eu simplesmente sei criar um mito. Ah, se eu gostasse tanto do número 27 teria levado Stevie Ray com essa idade. E aí, sim, teríamos uma grande teoria.

Janis Joplin? Ela cantava Farewell Song. Preciso explicar muito? E, cá entre nós, acho que a sua voz não continuaria a mesma. E seria doído vê-la cantando pior. Há uma outra questão humana. Com tanto artista ruim, porque eu levo os melhores? Bem, em que momento vocês imaginaram que eu teria mau gosto musical? Eu simplesmente gosto de boa música.

Depois tem o menino Jim Morrison. Eu sou discreta, chego sem esperar. Mas quando ouvi “The End” pensei: esse rapaz sabe que eu estou chegando. E gosto de me imaginar como o beautiful friend da letra.

Ver The Doors em turnê com outros cantores quase me traz um arrependimento. Ele não merecia isso. E Val Kilmer? Pensei em adiantar a vinda de um certo diretor só por essa escolha. Mas com Jim, senti que os 27 seriam um assunto. E isto foi algo pensado. Pela primeira vez, até então. E descansei. Gary Thain do Uriah Heep? Alan Wilson do Canned Heat? Pigpen do Grateful Dead? Ah, não me subestime. Todos ao acaso. Não fosse a busca pela internet, você não conseguiria ligar um assunto ao outro.

Tive muito trabalho nesse tempo. Levei grandes do reggae, o rei do rock, pelo menos uma dúzia de rappers, o menino Lennon e o maior ídolo pop de todos os tempos. Eternizei lendas, marquei seus lugares na história. E aí, vem a tal maldição dos 27 com Kurt Cobain. Sério? O cara canta: I hate myself and I want to die, Come on death e vocês acham que ele se foi por causa dos 27? Eu simplesmente adorava a audácia desse rapaz. Gostava como ele escrevia canções para mim. Vocês não sabem, mas me doeu tanto que vesti xadrez por um mês em luto. Em troca, lhes deixei o Dave Grohl repleto de ideias. E, mais uma vez, diversos takes inéditos do Nirvana.

E agora, vocês lamentam pela Amy. Fazem novas conjecturas com os 27. Uma explicação: ela era simplesmente muito talentosa. Você não escolhe o seu playlist? Eu também. E, de quebra, preservei sua voz em Back to Black. Com o tempo, vocês esquecerão a imagem de uma artista em decadência física e se lembrarão apenas de sua grande voz. Por isso, ela não fez 28.

Encerrando: não me importa 27 ou 42. Ah, você em suas crenças não se tocou que Peter Tosh e Elvis morreram com 42? A morte é o meu trabalho, apenas. E eu não acredito em superstições. Último pedido? Olha que ironia, eu falando em último pedido. Se é para fazer uma versão de uma canção de alguém que eu levei, que seja realmente boa. Eles raramente se sentem homenageados. Digo-lhes com conhecimento.

PS: Não comentei sobre Robert Johnson porque temos um acordo."




sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Quem disse isso?

Minha família continua a me trazer alegria e felicidade no cotidiano, e, se eu fosse qualquer coisa que não um alcólatra, alegremente diria que ela é prioridade número 1 de minha vida. Mas não pode ser assim, pois sei que perderia tudo se não colocasse minha sobriedade no topo da lista. Continuo a participar do encontro dos 12 passos, e mantenho contato com o máximo possível de pessoas em recuperação. Permanecer sóbrio e ajudar outros a alcançar a sobriedade será sempre a proposta mais importante de minha vida.

Você sabe quem disse estas palavras?

ATUALIZAÇÃO:
A roqueira Rosângela Oliveira da Silva deu a resposta correta. O texto acima é do livro autobiográfico do guitarrista e compositor Eric Clapton, lançado em 2007 pela Editora Planeta. Já falei dele em posts anteriores.



segunda-feira, 1 de agosto de 2011